quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Coquetel contra a hipertensão

Estima-se que 60% a 70% dos hipertensos precisam de mais de dois remédios para controlar a pressão. Saiba por que isso é necessário e o que muda com a chegada da polipílula - comprimido que vale por quatro

POR DANIELA TALAMONI
O drama começa quando aquela pressão arterial de 12 por 8, companheira fiel desde a sua adolescência, de repente, salta para 14 por 9 ou para índices ainda mais elevados. A situação piora porque você não consegue mudar seus hábitos e seguir regrinhas básicas, como diminuir o sal na comida, controlar o estresse, fazer exercícios e emagrecer, para tentar reduzir a fúria do fluxo do sangue contra as paredes das suas artérias. É nessa hora que os remédios entram em ação e se percebe que a guerra contra a hipertensão está só começando.

O arsenal de combate é forte, com drogas cada vez mais poderosas e menos agressivas. Mas a batalha diária para baixar a pressão e mantê-la sob controle é mais difícil do que as pessoas imaginam. Por não causar sintomas, o paciente não se convence facilmente de que precisa mesmo daquela medicação. Para piorar, estima-se que 60% a 70% dos hipertensos só consigam voltar aos 12 por 8 com a ajuda de dois ou mais remédios.

Sim, a regra na prescrição dos anti-hipertensivos mudou. Hoje, o médico sabe que são vários os mecanismos capazes de desencadear a doença. Segundo o nefrologista Décio Mion, chefe da Unidade de Hipertensão do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo (HC/USP), em 90% dos casos a doença está relacionada de uma só vez a herança genética, estresse, má alimentação (abuso de sal e álcool) e excesso de peso.

Por isso, ele alerta: é comum os médicos recorrerem a associações de drogas para atuar em várias frentes e a doses mais baixas para evitar os efeitos colaterais. Resultado: no Brasil, há 30 milhões de hipertensos, mas apenas sete milhões estão sendo devidamente tratados. Entre os que buscam ajuda, 50% abandonam o tratamento e dos que persistem, só metade mantém a medicação. Felizmente, os avanços nas fórmulas dos anti-hipertensivos e outras novidades a caminho prometem facilitar a vida dos hipertensos e mudar essas estatísticas

O nutrólogo e cardiologista Daniel Magnoni, do Hospital do Coração e do Instituto Dante Pazzanese, concorda: "o tratamento da hipertensão requer paciência e confiança mútuas - do médico e do paciente. A medicação é personalizada. Tudo depende do perfil do hipertenso e da reação do seu organismo às fórmulas. O profissional deve acompanhar o progresso do tratamento e mudar a estratégia até encontrar a receita ideal para cada um".


SILENCIOSA E FATAL
A pressão arterial é calculada pela força com que o coração empurra o sangue para as artérias e a resistência que o fluxo encontra para percorrêlas. No hipertenso, o sangue circula com dificuldade por causa da tensão das paredes dos vasos (como um esguicho prestes a vazar, porque alguém pisa nele, fechando a passagem da água). Sem tratamento, a artéria pode ficar frágil como o esguicho e se romper. Se isso acontece no cérebro, haverá um derrame; no coração, um infarto; e na principal artéria, a aorta, a morte é instantânea

ENTENDA OS NÚMEROS DA SUA PRESSÃO
Para saber por que 120mmHg por 80mmHg (ou 12 por 8) é uma pressão arterial considerada ótima pelos médicos, você precisa entender o que afinal esses números significam. Eles correspondem aos dois tipos de pressão arterial que a pulsação do coração gera: a sistólica (o valor mais alto) e a diastólica (o mais baixo). Toda vez que o coração contrai (movimento chamado de sístole), o sangue é empurrado com força para as artérias para atingir velocidade suficientes para percorrer o corpo e irrigar todos os tecidos e órgãos. Esse esforço empurra as paredes do vaso, exercendo uma pressão máxima (a sistólica). Logo em seguida, enquanto o coração relaxa (diástole) e se enche de sangue - vindo da circulação venosa - para a próxima batida, as artérias sofrem uma pressão mínima (a diastólica). Confira os índices aceitos, segundo a V Diretriz Brasileira de Hipertensão de 2006:
ÓTIMA
(12 por 8) Se a máxima (sistólica) for até 120mmHg Se a mínima (diastólica) for até 80mmHg
NORMAL
(até 12,9 por 8,4) Se a máxima (sistólica) for de 120 até 135mmHg Se a mínima (diastólica) for de 80 até 85mmHg
NORMAL ALTA (LIMÍTROFE)
(13,9 por 8,9) Se a máxima (sistólica) for de 136 até 139mmHg Se a mínima (diastólica) for de 86 até 89mmHg
HIPERTENSÃO acima de 14 por 9 Se a máxima (sistólica) for a partir de 140mmHg Se a mínima (diastólica) for a partir de 90mmHg

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